As artes em contextos africanos despontam, desde os anos 1980 com grande força em bienais, exposições e feiras dos circuitos mundializados das artes. Quais substratos e movimentos mobilizam a criação e as formas expressivas das identidades culturais em suas dinâmicas ético-estéticas e poéticas? Este questionamento inicial desdobra-se, neste projeto, em dois eixos de estudos e preocupações dentro de perspectivas de conexões e ressonâncias entre artes em suas diversas linguagens, história, antropologia e comunicação.
O primeiro eixo estuda – descreve e analisa – as linguagens para tematizações e criações (produzidas por artistas, curadorias e movimentos de criação coletivos) no contemporâneo, suas poéticas de relações, de corpos e de imaginação. Esse eixo atenta para os itinerários criativos em diálogo com modulações coletivas da história e com práticas culturais combinadas a contextos sociopolíticos precisos.
O segundo, interroga os lugares das artes como catalisadoras do pensamento artístico e de experimentação no fazer artístico em situações de violência (gênero, racismo e/ou etnicidade) e de ameaças à vida. Guerras, despotismo, ditadura ou terrorismo geram deslocamentos, exílios e sofrimentos coletivos, desacomodando tanto a criação como a reflexão teórica e curatorial. Como caminho heurístico, propõe-se uma metodologia de conexão entre autorias, criações, contextos e compreensão transdisciplinar, ancorada na pesquisa teórico bibliográfica com seminários somatórios, estudos de caso, pesquisa de campo, e interação dialogada com artistas, curadores/as, historiadores/as e ativistas culturais. A reflexão sistemática alia-se à prática rigorosa de construção diferencial de dados a fim de tecer relações entre expressões artísticas enquanto pensamento da estética da plasticidade. De modo sintético, os objetivos específicos d0 primeiro eixo são:
Discutir iniciativas no continente africano na forma de espaços de criação e espaços curatoriais e de experimentação, incluindo iniciativas culturais, festivais, movimentos e manifestações juvenis e de cultura popular.
Realizar estudos monográficos sobre artistas e seus contextos de criação com detalhado levantamento de referências bibliográficas e expressões artísticas.
Discutir o lugar das artes/cultura popular e das bases criativas e estéticas em contextos em que arte e vida permanecem entrelaçadas com as modulações coletivas da história e das práticas culturais.
Refletir sobre os diálogos interculturais e inter-estéticos em curadorias e espaços de cultura criados como polos culturais locais ou regionais.
O segundo eixo de desafios e interrogações desse projeto temático, conforme brevemente sinalizado anteriormente, busca conectar o pensamento artístico à história contemporânea de conflitos e guerras no continente africano e à racionalidade da política e da tecnologia (BUTLER, 2015). Que lugar/es as artes, artistas, curadores/as, manifestações comunitárias, desenham para si no coração das guerras, dos momentos de intensificação de conflitos e explosão de violência? África, como sugere Achille Mbembe (2020), é aprendida como campo de experimentação do que se passa hoje no mundo a fim de situar a reflexão e dar contexto e historicidade às indagações.
Assim, a reflexão atenta para as diversas formas de violência (de gênero, racial e/ou étnica) que se proliferam em diversos espaços neste século XXI interpelam a existência humana num planeta em combustão e políticas de corpos supérfluos, de sociedades, línguas e linguagens dispensáveis.