O Projeto Temático vem sendo desenvolvido com apoio institucional da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal do ABC (UFABC). Na USP, contamos com o apoio do decisivo da EACH e do Programa Interunidades em Estética e História da Arte (PGEHA), além do Departamento de Antropologia do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS) e do Centro de Estudos Africanos (CEA), todos sediados na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, da qual também recebemos apoio da diretoria e da Comissão de Cooperação Internacional; na UFABC contamos com o apoio do Centro de Engenharias, modelagem e Ciências Sociais Aplicadas (CECS) e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Humanas e Sociais. Uma particularidade em termos institucionais é seu caráter multi-institucional, contado com pesquisadores de diversas universidades brasileiras – USP, UFABC, UNILAB, UFRB, UFF – e duas africanas (Université Gaston Berger de Saint-Louis, Sénégal e Université Félix Houphouët-Boigny (Cocody-Abidjan), Costa do Marfim.
Pesquisas individuais cada pessoa da equipe assumiu o compromisso de desenvolver projetos próprios que correspondem à criação e a formas expressivas do pensamento artístico em contextos africanos a partir dos anos 1980. Trabalhamos buscando perspectivas de conexões e ressonâncias entre artes em suas diversas linguagens, história, antropologia e comunicação em movimento permanente. Sobre as pesquisas individuais destacamos alguns elementos das preocupações elencadas a seguir.
Denise Dias Barros pesquisadora responsável pelo Projeto Temático, tem se preocupado em relacionar criação e história política, cultural e social, criar unidades na paisagem da criação ético-estética e de experiência sobre como o campo das artes vem definindo suas prioridades valorativas (temáticas, históricas e geográficas), observando tais definições nos movimentos no tempo. Volta-se, ainda, para entre repertoriar e refletir sobre entrelaçamentos entre seres humanos e não-humanos expressos no campo artístico. A pesquisadora vem trabalhando sobre a captura e desconexão de contextos de guerra que afetam pessoas e seres vegetais numa deriva comum e em um mesmo destino de impermanência, diante dos efeitos duráveis das guerras sobre quem a viveu e sobre quem não chegou a vê-la, mas recebeu seu impacto por herança ou por via do silêncio e esquecimento. Para apoiar a reflexão, pesquisa criações vinculadas a dramas histórico-ambientais que impactam duravelmente e religam destinos de sociedades humana e não humanas como na reflexão do artista Abdessamed El Montassir sobre traumas ofuscados pela história dominante, considerando inicialmente sua obra Galb’Echaouf (2021). No estudo, mundo vegetal impõe-se como símbolos de resiliências, testemunhos da história humana com seus impasses, mas, suas histórias diferem. Espera que, a partir de 2024 sua produção, diretamente vinculada a estes estudos, seja significativamente ampliada.
Laura Moutinho pesquisadora principal, vem trabalhando a partir de uma perspectiva que combina pesquisa histórica e etnográfica. O foco recai sobre a economia moral que coloca o gênero e sexualidade como operadores das relações raciais na produção da desigualdade de classe em cidades da província do Cabo Ocidental, na África do Sul no período do apartheid e da democracia. Neste cenário, também a arte foi fundamental na denúncia da violência e da desumanização dos não brancos. Além disso, ao explorar os interstícios burocráticos, sociais e econômicos do sistema da burocracia racial no regime do apartheid através da análise dos processos criminais enquadrados na Immorality Act e da forma como as famílias lidaram com os imperativos do Estado de segregação, Moutinho vem se deparando com artistas que fizeram de suas vidas objeto e alimento de diferentes tipos de manifestações artíticas. Há uma arte de protesto que emerge e/ou se articula a esta condição. Concomitantemente, a extrema-direita, que sustentou o regime de segregação, produz uma arte (muitas vezes quase uma propaganda) na qual se vê espelhada racial, nacional, social e subjetivamente, especialmente em Stellenbosch. O material que vem sendo levantado permite ainda interpelar a consciência moral humanista, que sustenta a recente democracia e será, também, articulado ao projeto “Condições (in)suportáveis: imperativos burocráticos, espaços, sujeitos e relações no sul da África” .
Paulo Sérgio da Costa Neves pesquisador principal, tem como foco principal de suas pesquisas o modo como a arte é usada como meio de mobilização política e/ou como forma de construir narrativas contra-hegemônicas no âmbito da sociedade sul-africana. Desse modo, tanto as performances e manifestações artísticas de movimentos estudantis durante suas mobilizações, como as obras de arte expostas em lugares públicos ou, ainda, as exposições e instalações e artistas engajados em museus, galerias, feiras etc. formam o material empírico para discutir os diferentes projetos de nação e de justiça em disputa na África do Sul. Para atingir esses objetivos, o pesquisador vem realizando trabalho de campo na Província do Cabo Ocidental, com especial destaque na Cidade do Cabo. Durante seu trabalho de campo na África do Sul, entre outubro de 2023 e fevereiro de 2024, realizou um levantamento bibliográfico sobre os movimentos estudantis sul-africanos nas duas últimas décadas. O debate sobre a descolonização diz respeito à memória e ao lugar que a crítica à história colonial terá na sociedade, por isso, as artes têm um papel importante nessa dinâmica. Realizei, juntamente com a prof. Laura Moutinho e a doutoranda do PPGAS e pesquisadora deste temático, Alessandra Tavares, diversas incursões nos campus das três universidades citadas acima, perscrutando as mudanças estéticas visíveis (através de pinturas, esculturas e grafites) nos espaços universitários. Deste trabalho resultou um ensaio fortográfico.
Os pesquisadores associados estrangeiros interagiram ao longo desses últimos meses de diversas maneiras, desde orientar bolsistas que preparavam seus estágios de campos, sugerindo conteúdo para a pesquisa de mapeamento de artistas, exposições, curadorias e instituições, mediando relações com outros intelectuais do continente africano, principalmente.
Abdoulaye Niang as artes urbanas e participação cívica no Senegal contemporâneo estão no centro dos estudos do pesquisador da Universidade Gaston Berger de Saint-Louis, Senegal. Estes estudos com publicações de diversas pesquisas já em curso foram ampliados pelas atividades de campo em São Paulo, realizadas durante sua estadia na cidade, antes e depois de sua participação no I Seminário Internacional Link’Art Áfricas.
Aghi Bahi como pesquisador compõe a pesquisa Abidjan: engajamentos artísticos como ressonâncias dos anos difíceis (2010-2011). Suas pesquisas neste projeto estão alicerçadas na perspectiva da Antropologia da Comunicação, abordando temáticas a partir da Costa do Marfim, com especial interesse pelos usos da Tecnologia da Informação e Comunicação, mídia pública, observando movimentos culturais e artísticos, principalmente de performances, musicais e poéticas visuais. Ele ofereceu um dos minicursos de 2023 no qual apresentou e discutiu produções artísticas marfinenses, questionando os sentidos das artes, musicais, performáticas principalmente, partindo das noções de arte e de beleza em língua bété. Depois, focou suas reflexões em clipes de artistas como Paul Madys e Les Djiz, Meiway e de Désiré Amani, analisando imagens, performances além da poética de músicas. Ainda no sentido de discutir as diferentes expressões artísticas do país, desenhou uma aproximação abordando espaços expositivos, performances, encontros artísticos e percursos de artistas que dialogam mais diretamente com questões políticas da Costa do Marfim Diferentes modulações do trabalho em curso foram discutidas a partir de suas apresentações no Brasil durante sua conferência no I Seminário Internacional Link”Art Áfricas em São Paulo.
Antonia De Thuin foca sua pesquisa ao redor de curadorias e espaços artísticos no Marrocos, Nigéria e Gana. A interessam sobretudo espaços como os constituídos em Tamale, pelo artista Ibrahim Mahama, ou em Dakar, pela curadora Koyo Kouoh, mas também espaços coletivos, como Le 18, em Marrocos. A produção nesses espaços, como a reflexão da própria Kouoh afirma, é necessária para sair do espaço oficial, sequestrado muitas vezes por oficialidades autoritárias no continente africano. Novos espaços, feitos a partir de vivências dentro e fora do continente, permitiriam coletividades e inventividades não plenamente ocidentais, permitiriam também levar a diálogos entre mundos, como Red Clay e Le18 promovem. O espaço de produção e pesquisa artístico como espaço de liberdade individual e ampliação do fazer coletivo, além da manutenção de espaços de ancestralidade, interessa sobretudo a pesquisadora, na medida em que os espaços de curadoria também se tornam espaços de memória.
Emi Koide desenvolveu pesquisa de campo sobre o tecido Adire iorubá e tingimento com índigo no contexto contemporâneo da Nigéria, considerando a rede de múltiplos atores humanos e não humanos nos processos criativos e produções têxteis, trazendo para o campo da história e crítica da arte a dimensão de agências não humanas – como as plantas, bactérias, divindades e outras matérias. No atual contexto de urgência da crise climática e ambiental, interessa ao projeto a abertura e reviravolta ontológica e epistemológica nas artes, inscrevendo dimensões outras, desfazendo categorizações e separações entre natureza e cultura, sujeito e objeto. Os estudos de caso envolvem pesquisa de campo da Nigéria e levantamento de teorias e episteme iorubá sobre perspectivas de reconhecimento de agências diversas e rede de atores múltiplos – humanos e não humanos. O Adire iorubá denomina os tecidos originalmente tingidos de índigo (a partir da planta Loncocharpus cyanensis, denominada como elu em iorubá) com padronagens diversas, originalmente utilizados como turbantes e panos de amarrar, a palavra adire significa “pegar, amarrar e tingir” (WENGER & BEIER, 1957) em iorubá. Diversas técnicas de tingimento resistido – através de costuras, amarrações, uso de goma de mandioca e cera – criam padrões que possuem denominações e significados. Importante observar que o Adire ocupa um lugar destaque relacionando-se fortemente à história da arte moderna e contemporânea da Nigéria, num contexto em que a clivagem entre arte e artesanato não se dá da mesma maneira que no contexto ocidental. Realizou visitas, e entrevistas em diversos ateliês, com artistas, aladires e alaros nas cidades de Lagos, Abeokuta, Oshogbo, Ibadan e Ile- Ifé Também foi possível visitar e conhecer museus e galerias para o mapeamento do projeto temático.
Jane Aparecida Marques e a mestranda Laura Dias Porto dedicam-se ao mapeamento e discussão acerca da produção e circulação de arte digital no âmbito de alguns Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP). Para contextualização, buscaram expandir o território para a produção de arte digital em todo o continente. Localizaram 3 artistas que começaram a trabalhar com Non Fungible Tokens (NFT) logo no começo do desenvolvimento do mercado e fizeram um estudo de caso múltiplo, construindo um artigo que está sendo submetido para publicação em periódico internacional. Também mapearam uma plataforma online African Digital Art (ADA) da pesquisadora e curadora Jepchumba, onde divulga arte digital produzida ou coproduzida com artistas do continente africano. De 432 publicações, apenas 10 eram artistas de algum país dos PALOP. Está sendo adotado o levantamento realizado pela Dra Tegan Bristow e equipe que mapeia a situação dos intermediários, agentes envolvidos no processo de produção e circulação de arte digital, abrangendo diversos países do continente, entretanto esse estudo abrange principalmente regiões onde o inglês e o francês são línguas dominantes. Neste momento, as pesquisadoras estão em contato com a Dra Tegan Bristow e membros da sua equipe para viabilizar pesquisas cooperadas.
Lia Dias Laranjeira volta-se para as trocas e aprendizados na trajetória de artistas, tanto em programas de cooperação em Moçambique quanto no âmbito de experiências de trabalho e formação na África do Sul, dentro de temáticas que remetem ao período da guerra civil em Moçambique, acirrada na década de 1980, assim como ao regime do apartheid na África do Sul. Tem dialogado com questões relacionadas às formas de representação da violência nas artes visuais, às condições de mobilidade de artistas e obras, e aos trânsitos e intercâmbios culturais entre Moçambique e África do Sul, num contexto marcado pelo endurecimento dos aparatos ideológicos nos dois países, nos anos 1980, e uma maior abertura política regional, nos anos 1990. Nesse sentido, a pesquisa se inspira na abordagem da antropologia transnacional (Hannerz, 1997), ao dar especial atenção às fronteiras, fluxos e híbridos que distanciam, aproximam e mesclam estilos e linguagens nestes dois países, valorizando seus “territórios sobrepostos e histórias entrelaçadas” (Said, 2011). Sob supervisão de Laura Moutinho, a pesquisa deverá ser aprofundada em 2024 com a realização de entrevistas e de pesquisa documental nos dois países entre abril e agosto deste ano. Nesta ocasião, se reunirá com outros participantes do Projeto para trabalharem juntos no mapeamento de artistas e na organização de evento relacionado à produção artística em interface com o tema da violência em Moçambique. Lia Dias Laranjeira esteve em licença maternidade entre final de abril e início de novembro de 2023.
Mahfouz Ag Adnane dedicou sua atenção para o acompanhamento do conflito armado no Mali, notadamente, no segundo semestre de 2023, durante a ação sobre Kidal, que opôs a sociedade entre agentes do Estado apoiado pela empresa russa Wagner e os Movimentos federalistas do norte do país. Sua pesquisa se volta para as criações poético-musicais que circularam em grupos Kel Tamacheque, notadamente em grupos WhatsApp. Destaca a presença de artistas diretamente envolvidos no âmbito de conflito armados, seja como soldados (caso do ícone Ibrahim Ag Alhabib), seja como documentaristas como o fotógrafo Souleymane Ag Anara que tem registrado com suas lentes os conflitos no Mali, desde 2012. Ele fundou o Antropia, programa que visa a formação e a representação de fotógrafos nômades do Saara. Por meio de suas imagens é possível discutir, por um lado, a narrativa (considerada anticolonialista e pan-africanista) de reconquista de soberania por Bamako diante dos movimentos federalistas, ressaltando que a região de Kidal jamais esteve sob real controle do poder central. Atribuíram a responsabilidade a atores externos (França, MINUSMA) de impedir o estado do Mali do exercício de sua soberania territorial (Bencherif, Carignan 2023). De outra parte, as narrativas de luta emancipatória (contra colonização entre africanos) e de resistência em defesa de seu território e cultura por parte dos movimentos – Quadro Estratégico Permanente (CDP) reunindo grupos da CMA e da Plataforma (signatários do Acordo de Argel, 2015). A confrontação de perspectivas, alianças e interesses é um elemento de análise de seu estudo que se volta para populações no ambiente de tensão extrema e na fronteira do esquecimento e do silenciamento histórico sobre os antigos pastores nômades, caravaneiros e comerciantes do deserto do Saara como sociedades criativas que aliam oralidade, ritmo e visualidades em meio a suas contradições e realizações históricas. Hoje, mais de dois milhões de pessoas vivem em distintos Estados-nação, além de exilados e refugiados. Em 2023, dedicou-se igualmente ao mapeamento de artistas saarianos e colaborou com Houda Bakour no levantamento de dados em língua árabe.
Marina Berthet se debruça sobre a relação entre artes contemporâneas visuais e outras, constituídas na ansiedade de se aproximar de olhares vindos de sociedades africanas e capazes de expressar suas sensações e sentimentos em: significados e sentidos dados por artistas de Cabo Verde sobre a migração forçada de cabo-verdianos para São Tomé e Príncipe. Marina vem procedendo a um levantamento de produções de artes visuais que trabalham esse tema, incluindo as galerias e o que apresentam, as instituições que propõem formações artísticas como a M_EIA de Mindelo. A essa temática principal, acrescenta produções de artistas cabo-verdianos imigrantes em diferentes espaços com leituras sobre violências contra a mulher cabo-verdiana e contra o meio ambiente. Gilda Barros, grafiteira, é uma das artistas analisadas. Paralelamente Marina tem incluindo mais recentemente e no contexto do projeto FAPESP a questão das migrações africanas para Europa com mortes violentas ocorridas nas tentativas das travessias. Vários artistas africanos têm trabalhado sobre migrações. Marina tem, igualmente, trabalhado na elaboração de estudo sobre a guerra da Argélia no artigo sobre um grupo de artistas que expuseram seus trabalhos durante as comemorações da Independência da Argélia. O coletivo Krasnyi se propõe a retratar os impactos dessa guerra na França, mapeando as ruas e os lugares onde argelinos foram mortos durante uma manifestação em Paris. Marina então se lançou na revisitação dos lugares desenhados para visitá-los e perceber o que se fez desses lugares nas diversas memórias argelinas. Uma série de artistas argelinos retornam constantemente a lugares dessa luta pela Independência.
Marina Di Napoli Pastore a pesquisadora orienta sua pesquisa e atenção para as artes do cotidiano e sua importância expressiva para crianças e jovens deslocados do conflito armado em Cabo Delgado, norte de Moçambique. Com conflitos declarados desde 2017, a região sofre, diariamente, com ataques, ameaças e medo de confrontos, de perderem suas casas, suas famílias e suas vidas. Marina tem estudado sobre possibilidades de ressignificação da experiência da violência e das vivências de guerra que as crianças e jovens que conheceram ataques e fuga até acampamentos. Foram realizadas quatro viagens de campo em acampamentos destinados a deslocados nas regiões de Mueda, Balama, Mecufi e Montepuez. Se há um entendimento que as crianças moçambicanas, deslocadas dentro do próprio país, movem-se por estarem em situações de crise, como estabelecer espaço e linguagens de escuta-narrativa? Para isto, a aproximação mediada pela linguagem imagética, sobretudo pelo desenho, permitiu gerar narrativas, construídas em parceria e no terreno, potencializam a partilha e reforçam laços e possibilitam o acolhimento da dor em meio à guerra e aos deslocamentos.
Sandro José Cajé da Paixão dedicou-se a pesquisar arquivos de documentos (artigos e teses), sites específicos além de reportagens disponibilizadas em diversos canais de internet sobre as bienais Rencontres de Bamako e o Festival panafricain du cinéma et de la télévision de Ouagadougou (FESPACO) – incluindo os seus sites e redes sociais oficiais – que integra a pesquisa coletiva Bamako: criação artística em tempos de conflito, 2011-2022, juntamente com Denise Dias Barros e Mahfouz Ag Adnane. Nesta pesquisa, além de relacionar os artistas que participaram de todas as edições das bienais referidas, busquei compreender como a realidade social e mundial se inscreve nas obras apresentadas. Outros eventos, como a Bienal de Dakar e as mostras de fotografias e filmes africanos fora do continente africano, também são acompanhados, mas em segundo plano.
Alessandra Kelly Tavares de Oliveira doutoranda no PPGAS-USP. A pesquisadora discute cenários de aproximações, intercâmbios, dissensos e conflitos entre África do Sul e Moçambique, países que possuem uma forte relação de vizinhança. Pensar estes dois cenários, considerando o campo da arte, permite observar interconexões entre estes países da África Austral que possuem histórias conectadas e imensa variedade linguística, com histórias distintas de resistência e desenvolvimento do processo de colonização. Interessa-se por investigar o trânsito entre fronteiras destes países, o que permite aproximações e distanciamentos com relação ao mercado da arte, a profissionalização do campo, espaços e lógicas expositivas, bem como, a presença e ausência do Estado e da iniciativa privada na promoção das artes. Alinhado aos objetivos do projeto ambos os contextos africanos podem em paralelo e conectados propor caminhos distintos para a produção do pensamento artístico atrelado à história contemporânea, propondo respostas originais e criativas à questão sobre quais lugar/es as artes, artistas, curadores/as, manifestações comunitárias, desenham para si no coração das guerras, dos momentos de intensificação de conflitos e explosão de violência.
Carolina Goetten de Lima doutoranda bolsista, dedica seus estudos às formas que assumem a performance (como cenário em movimento de linguagens entrelaçadas) de quatro rappers senegalesas, Toussa, Mamy Victory, OMG e Moonaya (Benin-Senegal). O estudo analisa a produção de rap senegalês feito por mulheres, a partir de aproximações com o discurso performático. A metodologia se faz em torno do esforço de apreender fenômenos multiperformáticos e no contato contínuo com as artistas. O rap desempenha seu percurso estético enquanto procura formas de arte comprometida com a realidade, que o torna permeável a um conjunto inclusivo de linguagens estéticas, aqui discutidas como um todo performático.
Flávio da Silva Nogueira mestrando bolsista, dedica-se à investigação e à compreensão das noções de “cura” presentes nas expressões artísticas visuais: produções e curadorias do contemporâneo africano. Nesse sentido, seu estudo visa examinar os aspectos e os atributos conceituais ligados à cura que emergem na produção artística africana contemporânea, visando compreender os elementos intrínsecos ao processo criativo, além de correlacionar e refletir sobre as perspectivas das diversas camadas sociais, culturais, políticas e filosóficas. Adicionalmente, busca analisar os materiais selecionados para essa construção, destacando os conceitos subjacentes implicados em sua interpretação.
Luiz Carlos Zeferino dedica-se à obra do artista sudanês Ibrahim El-Salahi, discutindo seu sketchbook (produzido na prisão) no formato fac-símile, bilíngue, tendo o original sido adquirido em 2017 pelo MoMA. Sua pesquisa aborda o desenho como linguagem da superação, obra poética feita para cura e manutenção das reflexões do artista, enquanto estava preso politicamente, já que era um diplomata entre a Inglaterra e o mundo árabe, a serviço do Sudão.
Houda Bakour antropóloga e especialista em língua árabe, tem sido suporte indispensável para a necessária observância e devido dimensionamento dos espaços de língua árabe que participam do contemporâneo africano. Ela dedica-se ao levantamento de produções que dialogam com diferentes níveis de pertencimento étnicos, religiosos, nacionais, presentes nas múltiplas linguagens da arte. Assim, realiza sua contribuição no grupo, apoia os estudos das regiões saelo-saarianas além de outras situações em que o árabe intervém, caso de bienais e exposições no continente africano. Para nós o investimento na interlocução de expressões culturais em língua árabe, possui grande relevância no sentido de conferir organicidade aos nossos estudos. A formulação proposta de descrição do projeto deve ganhar maior coerência ao respeitar seu princípio de abordagem que exige não ceifar as dinâmicas do norte do continente ou tirá-lo da noção de África, permitindo priorizar as conexões além de observar as especificidades de cada região ou localidade africanas.